Introdução
O ferromodelismo é a arte de modelar o transporte ferroviário em miniatura e tão maior é o sucesso da modelagem quanto for o desapego do modelista ao que é limpo, perfeito e novo. É óbvio que nenhuma empresa ferroviária no mundo, nem mesmo a Cia Paulista que foi nosso maior orgulho em matéria de excelência ferroviária, possuia trens perfeitamente limpos. Um trem sempre apresenta sinais do ambiente que o envolve como poeira, terra, fuligem, umidade, óleo, ferrugem e graxa. Cedo ou tarde o ferromodelista irá se deparar com o desejo de representar esse envelhecimento, esse desgaste natural do tempo que todo material rodante sofre ao longo de sua dura vida ferroviária. Sempre há uma ou outra camada de peira e fuligem nos truques, na parte de baixo dos carros e vagões e nos tetos.
Nas duas fotos acima você pode conferir alguns trabalhos de envelhecimento que fiz, usando as técnicas que irei descrever neste artigo. O truque antigo é de uma prancha "old timer" da Frateschi que estou detalhando e envelhecendo e que será objeto de um post futuro. A prancha moderna é também da Frateschi e será a estrela deste tutorial. Obviamente não comecei tendo sucesso logo de cara. Precisei de alguns modelos cobaias e alguma paciência para continuar tentando, mesmo tendo errado nas primeiras vezes.
Felizmente este tutorial oferece a você um atalho simples, rápido e barato para começar na arte do envelhecimento (mais especificamente a ferrugem). Escolhi uma prancha da MRS (Frateschi) para exemplificar algumas técnicas básicas e garanto que após terminar este tutorial você se sentirá muito mais a vontade para partir para viagens mais ousadas, quem sabe até o envelhecimento de uma locomotiva inteira?
Veja a foto abaixo, você diria que se trata de uma miniatura? Certamente o trabalho de envelhecimento foi o fator decisivo para o espetacular realismo da cena. Note ainda que o envelhecimento foi crucial não só no aspecto do material rodante, mas também em todo o seu entorno (leito, solo, prédios e etc). Foto e modelo de David Lane, da ScaleFour Society.
Portanto qualquer ferromodelo que pretenda ser um modelo do real e não apenas um item de prateleira de colecionador, precisa ter pelo menos um nível inicial de envelhecimento. Caso contrário não passará de um mero brinquedão de luxo. Nada contra, cada ferromodelista é que decide aquilo que lhe faz feliz no hobby. Mas muitas vezes (eu diria em 100% delas) um modelo, por mais luxuoso e bem acabado que seja em seu estado original, fica MUITO melhor depois de envelhecido.
Dividi o artigo em partes, pois resolvi escrever tudo em detalhes e num único post a coisa ficaria muito extensa. Cada parte contará com vídeos mostrando tudo (não sou o Spielberg, então não repare na qualidade dos vídeos, ok? :^)
Vamos começar pelo material que você irá utilizar:
- Tinta acrílica da marca Hobby Cores nas cores:
- HCSG-31 SG Sandgelb II (RLM-79)
- HCF-14 Flat Buff (FS-30372)
- HCSG-05 SG Black (Basic)
- Álcool isopropílico (para diluir a tinta).
- Giz pastel seco:
- Laranja
- Marrom
- Um frasco de grafite em pó.
- Um pincel redondo Nº12.
- Um truque de carga que possa ser usado como cobaia.
A tinta HobbyCores você encontra em lojas de hobby, principalmente as que trabalham com produtos para plastimodelismo. O álcool isopropílico você encontra em lojas de material para eletrônica (ele é utilizado para limpar componentes). Os demais materiais (fora o truque de carga) você encontra em casas de material artístico.
Referências dos ProtótiposÉ preciso saber o que se está fazendo, antes de fazer. No nosso caso, o que quero dizer é que precisamos de boas referências do que seja um truque enferrujado. A ferrugem é uma constante em qualquer ferrovia do mundo, mesmo nas mais bem cuidadas. Ela é o resultado da oxidação do ferro e este metal em contato com o oxigênio presente na água e no ar se oxida e desta reação surge a ferrugem que deteriora pouco a pouco o material original. O ferro é encontrado em peças utilizadas em quase todos os setores de uma ferrovia. Com a internet ficou fácil conseguir referências fotográficas para quase tudo. No Wikipedia há um verbete explicando o que é ferrugem e adivinhe o que mostra uma das fotos que o ilustra? Um vagão enferrujado...
Mas mesmo com referências fotográficas, considero importante a visualização do objeto real, do protótipo. Sugiro que você dê um pulo em um ferro velho perto de casa pra captar o "look n' feel" do metal sujo e enferrujado. Faça algumas fotos. Com algum tempo será possível até classificar minimamente a ferrugem. Cada "tipo" tem uma razão de ser e é importante que você entenda sua origem, pra poder reproduzí-las com propriedade em seu modelo. Há a ferrugem nova que é mais alaranjada. A velha é mais marrom, mais escura. Tem também aquela ferrugem grossa que levanta bolhas e cascas na superfície do metal. E também aquela bem fininha que parece mais uma poeira sobre o metal, deixando até transparecer o brilho original do ferro.
Observe a foto abaixo. Eu a fiz no pátio central de Campinas e trata-se de um vagão prancha da RMS do tipo que o modelo da Frateschi representa. Note a ferrugem por toda a superfície do vagão. Onde há encontro de metal com metal, principalmente onde esse encontro gera atrito (engates, suporte dos varões, área dos truques e etc) há ferrugem nova, alaranjada. Nos demais "cantos" do vagão há também ferrugem nova misturada com velha (marrom mais escuro) e áreas onde a ferrugem ainda não agiu e se pode ver a pintura original.
Se você comparar as fotos do modelo com a foto da prancha real, notará que o modelo ficou bem mais realista depois de enferrujado.
No próximo post vou desmontar os truques da prancha e tirar os rodeiros, instalar os engates Kadee e aplicar as cores base para o "enferrujamento" :^). Para você não correr o risco de perdê-lo, inscreva-se na caixa "Novidades Via Email", ou no RSS. Por enquanto fique com mais algumas fotos da prancha enferrujada.